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Arquitetos: António Pedro Faria
- Área: 185 m²
- Ano: 2020
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Fotografias:Tiago Casanova
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Fabricantes: AOF, AutoDesk, Sanitana, Trimble Navigation
Descrição enviada pela equipe de projeto. No momento de intervir num edifício existente, surge sempre a confrontação entre o antigo e o novo. Um edifício do séc. XIX, situado no Centro Histórico de Braga, Rua de São Marcos, é a estrutura preliminar a partir da qual se produz este projecto, que quer pôr em evidência as qualidades do existente. Através de uma análise cuidada das características do edifício, em paralelo com aquilo que são os objectivos do novo programa, procura-se uma solução que crie um todo coerente e harmonioso.
Ao analisar o edifício existente, nota-se uma das qualidades mais comuns em edifícios com estas características tipológicas: a sua flexibilidade. Esta flexibilidade é facilmente constatada na forma como o edifício foi sendo dividido e ocupado ao longo do tempo mantendo, no entanto, a sua forma e estrutura inalterada. A flexibilidade do edifício acontece pela forma como se organiza. Pode- mos identificar um núcleo central de distribuição que dá acesso a duas zonas, que se relacionam com as duas fachadas. A dimensão generosa destes zonas, em que não se define um determinado uso ou tipo de espaço, permite que os mesmos possam funcionar como um todo ou de forma isolada.
O projecto responde à intenção de parcelar os pisos 2 e 3 em duas habitações, mantendo, no entanto, a caixa de escadas central de distribuição existente inalterada. Para tal é proposta a adição de um dispositivo divisor do espaço. Este dispositivo mantém e evidencia as qualidades já presentes na caixa de escadas, nomeadamente no que diz respeito à iluminação e ventilação naturais, à sua função de espaço de distribuição e núcleo agregador de todo o edifício.
Através da adição deste dispositivo, feita de forma precisa, é possível por um lado, potenciar as qualidades da caixa de escadas existentes e, por outro, dotar este espaço de novas qualidades, nomeadamente enquanto elemento de entrada e separação para uma das habitações. A estrutura é executada em esqueleto de madeira e preenchida a painéis translúcidos de policarbonato, permitindo assim que este espaço central e aglutinador do edifício continue dotado de luz e ventilação naturais, garantindo a privacidade para a habitação.
A divisão dos dois pisos dá origem a dois apartamentos: um estúdio e um T2. O estúdio beneficia da área generosa que a zona entre a caixa de escadas e a fachada de tardoz possui. O apartamento T2 desenvolve- se em dois pisos. No segundo piso, tira-se partido do pé-direito com uma altura igualmente generosa, resultante da inclinação da cobertura. Na zona de estar é criado um núcleo funcional que permite a criação de um espaço de estar em mezanino. Outra das intenções do projecto passa por conservar sempre que possível os pavimentos, as caixilharias em madeira ou os elementos decorativos presentes na clarabóia ou tectos.
A confrontação que existe entre o antigo e o novo, as novas necessidades trazidas pelo programa e a intenção de manter as qualidades do existente, tornam-se os três eixos a que o projecto deu resposta. Partindo do existente e das suas qualidades, trabalhando com elas e potenciando-as para assim alcançar uma metamorfose que responda aos desafios contemporâneos, é o princípio orientador de todo o projecto